A partir desta semana estamos convidando profissionais de saúde para colaborarem com o blog do Help Saúde.
A proposta é enriquecer a experiência do leitor a promover o conhecimento dos milhares de profissionais de saúde que temos no nosso Brasil.
Nosso primeiro post é do Cirurgião Vascular Felipe Silva da Costa.Vamos aprender um pouco sobre VARIZES.
VARIZES DE MEMBROS INFERIORES
Para explicarmos melhor sobre varizes, vamos começar com uma pequena noção sobre a anatomia e funcionamento das veias normais, ok?
Nossas veias, em sua grande maioria, apresentam válvulas que funcionam como comportas no seu trajeto. Essas válvulas são responsáveis por manter o fluxo do sangue em uma única direção, sem que aquela quantidade que passou por uma delas não retorne ao segmento anterior, ou faça um movimento de refluxo (que alguns de vocês lerão principalmente em laudos de Eco Doppler – exame solicitado para melhor visualização desses vasos através de ultrassom). Quando essas válvulas se tornam doentes, ou insuficientes, acontece o refluxo, que sobrecarrega o segmento anterior, dilatando aquela região. A outra parte da causa do aparecimento de varizes é o enfraquecimento da parede das veias que, com o passar do tempo, perdem sua elasticidade, tornando-se dilatadas constantemente.
Bom, e por que as varizes aparecem normalmente nas pernas? Depois do que foi escrito acima, acho que fica um pouco mais fácil de entender. Nosso corpo sofre a Lei da Gravidade dentro dele também. Então, aquele sangue que foi em direção ao pé e às pernas terá mais dificuldade em retornar. Ele terá que “brigar” com a gravidade para subir, o que levará, em qualquer um, à dilatação das veias para acomodá-lo melhor nesse processo. Com o passar do tempo, as veias das pernas começam a perder esta capacidade de dilatação e retorno ao seu tamanho normal, e começam a ficar constantemente dilatadas, evoluindo para a formação das varizes.
Em meu consultório, eu comparo sempre com uma bermuda de elástico! Uma bermuda de elástico novinha, nós podemos puxar suas laterais e ela voltará para a mesma posição. E quando ficam velhas? O que acontece? Começa a sanfonar a cintura, a não prender mais no quadril... É mais ou menos isto o que acontece com a veia após muito tempo de trabalho, digamos assim. As válvulas e as paredes se tornam insuficientes, retendo o sangue, dilatando as veias e levando a inchaços em consequência a este processo, o que provoca dor, coceira (prurido), “formigamento”, “queimação”. E tudo isso acontece mais em que período do dia? Após a jornada de trabalho – um dia inteiro de pé, sentado ao volante ou em sua mesa do escritório, dificultará o retorno do sangue, iniciando o ciclo citado acima.
“Ah, doutor, minha mãe, minha tia, minha avó, todo mundo lá em casa tem varizes! Eu vou ter também?” É, realmente, neste caso, a chance é grande! A hereditariedade é um fator um pouco complicado de se avaliar em uma doença como as varizes porque ela é muito comum em quem tem história familiar, mas também em quem não tem. Como não é rara, alguém normalmente tem um parente próximo que tem. Mas sim, aumenta a chance.
O que se pode dizer com maior certeza é que quanto mais velho (tempo de trabalho) e o tipo de profissão (de pé, carregando peso, dirigindo...) aumentam bastante a incidência das varizes. Além disso, mulheres têm mais tendência do que os homens, sugerindo a existência de um fator hormonal feminino (quatro mulheres para cada homem, estatisticamente, mas as mulheres procuram mais o tratamento que os homens, acredito que por causa da interferência estética). Pacientes obesos apresentam também mais varizes devido à sobrecarga de peso nas pernas.
O tratamento de varizes se baseia em cinco pontos-chave: exercícios físicos, repouso com pernas elevadas, medicação, uso de meia elástica de compressão e cirurgia.
Os exercícios físicos regulares melhoram a circulação, visto que, quando praticados, a musculatura da panturrilha (a “batata-da-perna”) contrai, ordenhando o sangue ali retido para cima, colaborando com sua luta contra a gravidade! Com isso, diminui a sobrecarga sobre as veias da região. O uso de saltos altos pelas mulheres não aumenta a chance de ter varizes, mas piora os sintomas, já que a musculatura da panturrilha permanece contraída, não fazendo o mecanismo de ordenha como falamos.
O repouso com as pernas elevadas também auxilia nesta briga, facilitando o escoamento do sangue, utilizando-se a gravidade a seu favor.
As medicações receitadas, conhecidas como flebotônicas, melhoram a capacidade destas veias voltarem a seus calibres normais e não dilatarem tanto. Porém, o uso delas não livra ninguém dos pontos anteriores! Como digo, elas dão um “empurrãozinho” na melhora, principalmente diminuindo o inchaço (edema) e consequentemente as queixas de dor, queimação, formigamento, etc.
As meias elásticas de compressão têm uma função simples e eficaz: comprimem as veias, não as deixando dilatar e não criando espaço, digamos assim, para formação de edemas também.
E, por fim, o tratamento cirúrgico. Este tem como objetivo a retirada daquelas veias já doentes, que levam às queixas. A cirurgia não pode ser encarada como fim do tratamento. A Insuficiência Venosa é uma doença crônica, ou seja, acompanha seus portadores praticamente por toda a vida depois de instalada. Portanto, o paciente que foi operado não deve de forma alguma interromper os outros quatro pontos citados, com destaque para os exercícios físicos, para o repouso com pernas elevadas e, para aqueles que fazem sua jornada de trabalho muito tempo de pé ou sentados (quase todas as profissões, não é?!), o uso da meia.
O objetivo do tratamento é a prevenção do aparecimento das varizes. A evolução desta doença leva a inchaços cada vez mais difíceis de tratar e mais dolorosos, ao escurecimento e endurecimento da pele das pernas (próximo aos tornozelos na sua maioria), ao aparecimento de úlceras nesta região, à maior chance de trombose e de flebites (inflamações das veias).
Lembrem-se: Não temos o intuito de substituir o seu médico. Portanto, não deixem de procurar o Angiologista ou o Cirurgião Vascular para ser examinado e ter seu tratamento iniciado de forma adequada.
Um grande abraço, Dr. Felipe
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