Sabendo que a OMS coloca a saúde mental em primeiro lugar dentro do conceito de saúde e aproveitando o Dia Mundial da Saúde Mental, entrevistamos o Psiquiatra Dr. Elie Cheniaux:
1- Como o Sr escolheu ser psiquiatra?
Meu interesse, na verdade, começou sendo pela psicanálise. Nisso, a arte, especialmente o cinema, teve bastante influência. Na adolescência, vários filmes que abordavam temas ou situações psicanalíticas me atraíram muito. O filme que mais mexeu comigo nesse sentido foi “Freud, além da alma”, de John Huston, que retrata o nascimento da psicanálise, com Montgomery Cliff no papel de Freud. Além desse, chamaram muito a minha atenção vários filmes do Hitchcock, como “Marnie, confissões de uma ladra”, “Quando fala o coração” e “Psicose”, só para citar os que mostram a psicanálise de forma mais explícita. E ainda filmes do Woody Allen, nos quais frequentemente o personagem interpretado por ele está em tratamento analítico ou fala sobre o tema. Fora do cinema, na literatura, livros de Machado de Assis também foram importantes para mim, pois abordava o tema da loucura, como “Quincas Borba”, em que o personagem-título deu o próprio nome ao cachorro, além do conto “O alienista”.
Escolhi fazer medicina porque queria ser psicanalista. Foi só durante o curso de graduação, ao ter contato com a psiquiatria e os doentes mentais, é que passei a me interessar também por psiquiatria. Hoje em dia, eu diria que sou um pouco mais psiquiatra do que psicanalista. Diria até que sou mais psicoterapeuta do que psicanalista, pois a psicoterapia que exerço, embora tenha altamente moldada pela psicanálise, não fica restrita a esta.
2- Se pudesse esclarecer um único aspecto psicopatológico a alguém que não conhece psiquiatria, qual seria o mais importante?
Um aspecto importante é que as doenças mentais são muito heterogêneas. O leigo, em geral, acha que o psiquiatra só trata do “louco varrido”, de indivíduos com quadros clínicos muito graves, que precisam ser internados, amarrados etc. Mas, na verdade, existem transtornos mentais muito menos graves do que, por exemplo, a esquizofrenia ou o Mal de Alzheimer. Existem, por exemplo, os transtornos de ansiedade, que correspondem em parte ao que no passado era chamado de neuroses, quadros em que o indivíduo doente não é muito diferente do normal.
3 - Psiquiatra pode ser psicoterapeuta? Como isso funciona?
Sim. “Psicoterapeuta” representa uma categoria muito ampla e heterogênea, sendo uma atividade que pode ser exercida por: médicos, psicólogos e outros profissionais da área de saúde mental. Não existe nenhuma regulamentação a respeito. Aliás, nem a atividade de psicanalista é regulamentada. A psicanálise é uma forma de psicoterapia, a mais antiga e mais tradicional. Porém, mesmo a psicanálise constitui algo muito heterogêneo. Nas sociedades psicanalíticas filiadas à Associação Psicanalítica Internacional, fundada por Freud, só médicos e psicólogos podem ser psicanalistas. No entanto, em outras instituições, são permitidos profissionais de outras áreas, inclusive de áreas que não a da saúde.
4- Por que se interessou pela carreira acadêmica? É bom ser professor no Brasil?
Tenho um grande prazer em ensinar e no contato com o aluno. Logo depois de terminar a residência médica em psiquiatria, já ficou claro para mim o interesse pela carreira acadêmica. O debate científico com os colegas também é por demais estimulante. Como é algo que me dá prazer, eu diria que é bom ser professor, seja no Brasil ou em qualquer outro país. No mundo todo, não só no Brasil, o professor e o pesquisador são mal remunerados. Assim, não é pela questão financeira que me mantenho na carreira acadêmica.
5- Médico psiquiatra, professor e escritor. Como surgiu a idéia do seu novo livro?
O livro se chama “Cinema e loucura: conhecendo os transtornos mentais através dos filmes”, publicado pela Artmed, em 2010. Aliás, ele acaba de ser selecionado como finalista do prêmio Jabuti 2011, na categoria “ciências da saúde”. A ideia foi do meu parceiro na autoria do livro, o professor J. Landeira Fernadez, da PUC-Rio e Universidade Estácio de Sá. Ele ministrava uma disciplina eletiva na graduação em psicologia da PUC chamada “Psicopatologia e cinema” e me chamou para escrever com ele um livro que pudesse ser o livro-texto dessa disciplina. No livro, nós discutimos praticamente todos os transtornos mentais que constam das classificações psiquiátricas atuais. Apresentamos primeiro uma revisão teórica sobre cada um dos transtornos mentais e, em seguida, utilizamos filmes como ilustrações desses transtornos mentais. Assim, por exemplo, descrevemos as características clínicas da esquizofrenia e, a seguir, discutimos filmes, como “Uma mente brilhante”, em que um personagem tem esse diagnóstico.No total, discutimos 184 filmes. Verificamos que muitos deles mostram de forma fiel como são os transtornos mentais no mundo real. Todavia, não raramente os transtornos mentais são retratados de forma distorcida pela sétima arte. Quando os filmes apresentam esse tipo de falha, isso é apontado e discutido por nós.
6- Vamos falar sobre cinema?
Observo que o cinema adora a loucura. Os personagens com algum tipo de transtorno mental são frequentemente utilizados pelos roteiristas, pois costumam tornar o enredo especialmente interessante. O “louco” pode ser engraçado, o que pode ser muito útil nas comédias; faz coisas inesperadas, o que permite grandes viradas na história; e pode ser um ótimo vilão.
Fonte: Dr. Elie Cheniaux. CRM: RJ 511970
Quer fazer parte do nosso blog? Envie um artigo para artigos@helpsaude.com.
1- Como o Sr escolheu ser psiquiatra?
Meu interesse, na verdade, começou sendo pela psicanálise. Nisso, a arte, especialmente o cinema, teve bastante influência. Na adolescência, vários filmes que abordavam temas ou situações psicanalíticas me atraíram muito. O filme que mais mexeu comigo nesse sentido foi “Freud, além da alma”, de John Huston, que retrata o nascimento da psicanálise, com Montgomery Cliff no papel de Freud. Além desse, chamaram muito a minha atenção vários filmes do Hitchcock, como “Marnie, confissões de uma ladra”, “Quando fala o coração” e “Psicose”, só para citar os que mostram a psicanálise de forma mais explícita. E ainda filmes do Woody Allen, nos quais frequentemente o personagem interpretado por ele está em tratamento analítico ou fala sobre o tema. Fora do cinema, na literatura, livros de Machado de Assis também foram importantes para mim, pois abordava o tema da loucura, como “Quincas Borba”, em que o personagem-título deu o próprio nome ao cachorro, além do conto “O alienista”.
Escolhi fazer medicina porque queria ser psicanalista. Foi só durante o curso de graduação, ao ter contato com a psiquiatria e os doentes mentais, é que passei a me interessar também por psiquiatria. Hoje em dia, eu diria que sou um pouco mais psiquiatra do que psicanalista. Diria até que sou mais psicoterapeuta do que psicanalista, pois a psicoterapia que exerço, embora tenha altamente moldada pela psicanálise, não fica restrita a esta.
2- Se pudesse esclarecer um único aspecto psicopatológico a alguém que não conhece psiquiatria, qual seria o mais importante?
Um aspecto importante é que as doenças mentais são muito heterogêneas. O leigo, em geral, acha que o psiquiatra só trata do “louco varrido”, de indivíduos com quadros clínicos muito graves, que precisam ser internados, amarrados etc. Mas, na verdade, existem transtornos mentais muito menos graves do que, por exemplo, a esquizofrenia ou o Mal de Alzheimer. Existem, por exemplo, os transtornos de ansiedade, que correspondem em parte ao que no passado era chamado de neuroses, quadros em que o indivíduo doente não é muito diferente do normal.
3 - Psiquiatra pode ser psicoterapeuta? Como isso funciona?
Sim. “Psicoterapeuta” representa uma categoria muito ampla e heterogênea, sendo uma atividade que pode ser exercida por: médicos, psicólogos e outros profissionais da área de saúde mental. Não existe nenhuma regulamentação a respeito. Aliás, nem a atividade de psicanalista é regulamentada. A psicanálise é uma forma de psicoterapia, a mais antiga e mais tradicional. Porém, mesmo a psicanálise constitui algo muito heterogêneo. Nas sociedades psicanalíticas filiadas à Associação Psicanalítica Internacional, fundada por Freud, só médicos e psicólogos podem ser psicanalistas. No entanto, em outras instituições, são permitidos profissionais de outras áreas, inclusive de áreas que não a da saúde.
4- Por que se interessou pela carreira acadêmica? É bom ser professor no Brasil?
Tenho um grande prazer em ensinar e no contato com o aluno. Logo depois de terminar a residência médica em psiquiatria, já ficou claro para mim o interesse pela carreira acadêmica. O debate científico com os colegas também é por demais estimulante. Como é algo que me dá prazer, eu diria que é bom ser professor, seja no Brasil ou em qualquer outro país. No mundo todo, não só no Brasil, o professor e o pesquisador são mal remunerados. Assim, não é pela questão financeira que me mantenho na carreira acadêmica.
5- Médico psiquiatra, professor e escritor. Como surgiu a idéia do seu novo livro?
O livro se chama “Cinema e loucura: conhecendo os transtornos mentais através dos filmes”, publicado pela Artmed, em 2010. Aliás, ele acaba de ser selecionado como finalista do prêmio Jabuti 2011, na categoria “ciências da saúde”. A ideia foi do meu parceiro na autoria do livro, o professor J. Landeira Fernadez, da PUC-Rio e Universidade Estácio de Sá. Ele ministrava uma disciplina eletiva na graduação em psicologia da PUC chamada “Psicopatologia e cinema” e me chamou para escrever com ele um livro que pudesse ser o livro-texto dessa disciplina. No livro, nós discutimos praticamente todos os transtornos mentais que constam das classificações psiquiátricas atuais. Apresentamos primeiro uma revisão teórica sobre cada um dos transtornos mentais e, em seguida, utilizamos filmes como ilustrações desses transtornos mentais. Assim, por exemplo, descrevemos as características clínicas da esquizofrenia e, a seguir, discutimos filmes, como “Uma mente brilhante”, em que um personagem tem esse diagnóstico.No total, discutimos 184 filmes. Verificamos que muitos deles mostram de forma fiel como são os transtornos mentais no mundo real. Todavia, não raramente os transtornos mentais são retratados de forma distorcida pela sétima arte. Quando os filmes apresentam esse tipo de falha, isso é apontado e discutido por nós.
6- Vamos falar sobre cinema?
Observo que o cinema adora a loucura. Os personagens com algum tipo de transtorno mental são frequentemente utilizados pelos roteiristas, pois costumam tornar o enredo especialmente interessante. O “louco” pode ser engraçado, o que pode ser muito útil nas comédias; faz coisas inesperadas, o que permite grandes viradas na história; e pode ser um ótimo vilão.
Fonte: Dr. Elie Cheniaux. CRM: RJ 511970
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esta postagem me entusiasmou a começar a escrever meu blog pessoal. recomendo este blog para qualquer que seja seu interesse em manter-se bem, tratar de algo que os seus querem desconversar, melhorar-se ou para saber como lidar com situações que, a primeira vista, parecem sem saída, terminais, progressivamente degenerativas, etc, etc... principalmente quando estiver tendo algum sintoma ou quando acontece com alguém que você ama: quem ama cuida ou então apenas diz que ama e está é mentindo descaradamente!!!
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